sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Opinião / Artigo

50 anos da revolução cubana: sociedade do conhecimento

Para nós brasileiros de classe média (somos quantos? 5%? 10%) e que não conhecemos a realidade de 90% do nosso povo, que não tem como pagar um plano de saúde, com educação precária, com pouca alimentação, que fica com os restos do desperdício dos 10%, é difícil entender a lógica econômica de uma sociedade voltada para os 100% da população. E ficamos horrorizados por eles não terem papel higiênico. Mas não nos deixam horrorizados que tenham bibliotecas e livrarias em toda escola e em toda cidadezinha. Ou que tenham acesso à saúde e educação da melhor qualidade, habitação com saneamento e aparelhos eletrodomésticos novos que economizam energia. Ou, que vivam em um País sem degradação ambiental.
E a busca do conhecimento? E as escolas? Todas as escolas têm bibliotecas muito bem servidas de livros que vão de José Saramago passando por Marx, a Lênin, de Jorge Amado, Machado de Assis, a Shakespeare. O investimento na potencialidade do ser humano não para ai. O desenvolvimento das artes – dança, pintura, música, poesia, desportos – é encontrado em cada escola, em cada esquina, em cada cidade.
É assim, uma sociedade muito diferente que estimula e atrai a curiosidade, a admiração e o amor de milhões mundo afora. Aliás, nada melhor para ilustrar isto do que a crônica do Clovis Rossi, o "pop star" se aposenta do dia 20 de fevereiro na Folha de São Paulo, relatando o episódio de um encontro do GATT, com a presença dos chefes de Estados, diferentes autoridades mundiais e jornalistas de todo o mundo. Diz ele que o burburinho na sala do encontro e na sala dos jornalistas era enorme, com a atenção dispersa. Quando se anunciou Fidel Castro houve uma grande agitação, com todos procurando o melhor lugar para assisti-lo e "ao terminar, uma chuva de aplausos, inclusive de seus pares, 101% dos quais não tinham nem nunca tiveram nenhum parentesco e/ou simpatia com o comunismo. Difícil entender o que aconteceu ali."
Para terminar, quero colocar uma idéia desenvolvida por vários cientistas cubanos e sintetizada pelo jornalista Jesus Rodrigues Diaz, falando sobre o potencial no desenvolvimento do conhecimento quando ele se da de forma coletiva:
"Temos que insistir também que, quando falamos do Potencial Humano criado pela revolução, não nos referimos exclusivamente à quantidade de conhecimentos técnicos incorporados em nossa população. Mais importante ainda é a semeadura de valores éticos, de atitudes ante a vida. Na sociedade do conhecimento faz falta um cidadão com vocação de aprender e de criar, e de levar seus conhecimentos aos demais seres humanos. Os conhecimentos técnicos nos podem dizer como se trabalha, porém são os valores que nos fazem compreender porque se trabalha e deles tiramos as motivações e as energias para seguir adiante.Que se passa agora se os conhecimentos se voltem ao fator mais importante da produção, inclusive os bens de capital? Não é difícil de prever. A resposta do capitalismo é a intenção de converter também o conhecimento em Propriedade Privada. Porém, a boa notícia é que isto não vai funcionar. O conhecimento não e igual ao Capital. Está nas pessoas e não se pode facilmente privatizar. O conhecimento requer circulação e intercâmbio amplo.As leis da propriedade intelectual inibem este intercâmbio. O conhecimento é validado pela sua aplicação social, não pela sua venda. O uso amplo dos produtos do conhecimento é o que os potencializa", termina o jornalista.
Esta é a grande limitação do raciocínio capitalista em entender a potencialidade da criação coletiva. Ignoram que a criação humana coletiva tem muito mais possibilidades do que as leituras positivistas do conhecimento.
O maior feito desta pequenina ilha, com um povo cheio de dignidade e coragem, terá sido o de mostrar ao mundo que é possível construir uma sociedade baseada no ser humano e não na mercadoria e na acumulação de capital. E isto ameaça o mundo capitalista, e é rejeitada pela imprensa e por uma parte da sociedade que quer impor às condições de suas vidas para a totalidade do mundo. Mas, Cuba não esta só. Existe hoje uma rede internacional de solidariedade ocasionada pelos médicos e professores cubanos em mais de 100 países, pela Operação Milagros (cirurgias de catarata feitas por médicos cubanos, em pessoas pobres de quase todos os Paises da América Latina e Caribe, ficou conhecida como operação Milagro após uma visita de Fidel a uma pequena cidade do interior da Venezuela, onde uma mulher pós-operada e ter de volta a visão, disse que foi um Milagro (em espanhol, e Milagre em português) dos médicos cubanos pelas brigadas de solidariedade e por todos aqueles que acreditam que Um Outro Mundo é Possível e que lutam pela sua construção.

PS: Expedito Solaney, participou do VII encontro Hemisférico contra os Tratados de Livre Comércio em Cuba no mês de abril/08, é Secretário Nacional de Políticas Sociais da CUT.

Fonte: Blog do Jamil - disponível em: http://jc.uol.com.br/blogs/blogdejamildo/artigos.php - POSTADO ÀS 12:05 EM 08 DE Janeiro DE 2009
Após algum tempo, olha eu aqui outra vez... Desta vez com alguns artigos super interessantes.

Confira.

Artigo / Opinião
50 anos da vitoriosa revolução cubana

Por Expedito Solaney*

O companheiro Raul Castro, ante a realidade atual e consciente da perspectiva de dar continuidade ao legado da revolução, diz que tem de trabalhar unido para seguir adiante com o mesmo espírito de luta e firmeza destes 50 anos de conquistas, resistência, avanços e, sobretudo da solidariedade. Cuba está saindo de período difícil por motivos dos desastres naturais, foi fortemente atingida por três furacões de grandes proporções em 2008, destruindo parte de sua infraestrutura e habitações. O mundo inteiro se solidarizou num gesto de reciprocidade com um país que tem a solidariedade como marca. Cuba sobreviveu a outras longas e piores tentativa de destruição, sairá desta também!
Influenciados por um modelo ou padrão de notícias, a imprensa tem pautado o aniversário da revolução cubana com dois eixos, o primeiro que não existe democracia na ilha e o segundo que o novo presidente dos Estados Unidos pretende rever embargo com uma condição: garantir a democracia na ilha. Nenhuma matéria fala dos indicadores sociais nem da felicidade e orgulhos que os cubanos tem da revolução, é incrível, as matérias sempre tratam de denegrir a imagem de Cuba e das conquistas resultantes da revolução, tentam passar a imagem de miséria e dizer que existe ali uma ditadura. O povo cubano não é passivo e a revolução foi construída justamente para derrubar um despota que transformou a ilha em um cassino.
Os cubanos têm um nível cultural bem acima da média do povo brasileiro, essa é uma constatação irrefutável. Tive a oportunidade de ir a Cuba recentemente para participar do VII encontro hemisférico contra os tratados de livre comércio – promovido pela Aliança Social Continental e organizado pela Central de Trabalhadores de Cuba, e, nesta oportunidade conheci escolas, entrei em diversos lugares, conversei com cubanos de forma tranqüila e fui muito bem recebido por aquele educado e culto povo.
Procurei crianças e adultos de pés no chão, mendigando, dormindo debaixo de marquises, casas miseráveis. Mas, como bem informa o governo em vistosas propagandas que só elevam a autoestima daquele povo:”Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana". Outra: "A cada ano, 80 mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana". Sabemos que milhares delas são brasileiras, a 8ª economia do mundo.
O processo eleitoral, onde se elege o Parlamento, contou com 95% de participação no processo eleitoral em 2008, e lá o voto não é obrigatório. O Partido Comunista Cubano não é uma organização eleitoral e, portanto, não se apresenta nas eleições e nem postula candidatos. Os candidatos são tirados diretamente de assembléias públicas nas diversas formas de organizações existentes: do bairro, das mulheres, jovens, estudantes, campesinas, que depois vão se reunindo por região, Estado e finalmente, no nível nacional. Estes representantes nacionais elegem o presidente e o vice. Todos os representantes podem ser destituídos, a qualquer momento, pelas suas bases, caso não estejam respondendo ao projeto de sua eleição. No processo de 2008, 46% dos eleitos são mulheres (e no Brasil conseguimos as cotas de 30% para concorrer!!). As estruturas de funcionamento são mais próximas de uma democracia direta e participativa. Parece-me um contra-senso chamar este processo de anti-democratico ou de ditadura. Seguramente, é diferente da democracia burguesa, em que após colocar o voto na urna "finda" a obrigação do eleitor.

Fonte: Fonte: Blog do Jamil - disponível em: http://jc.uol.com.br/blogs/blogdejamildo/artigos.php - POSTADO ÀS 12:07 EM 08 DE Janeiro DE 2009